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Carta Aberta aos Leitores!

TEXTO ORIGINALMENTE PUBLICADO EM 21/08/2018, MOMENTOS DEPOIS DO ANÚNCIO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL DE DUAS REDES DE LIVRARIAS. O TEXTO FOI POSTADO EM RESPOSTA A UMA SÉRIE DE DUVIDAS DOS LEITORES, A RESPEITO DO CENÁRIO ECONÔMICO DO MERCADO LIVREIRO NA ÉPOCA!

Fala pessoal, tudo bem? Aqui quem fala é o Junior Fonseca, diretor e fundador da NewPOP Editora. E, devido à grande crise e incertezas do mercado editorial, achei bacana trocar uma ideia com vocês!

Quando decidi criar a NewPOP, em 2007, sabia que o caminho seria cheio de obstáculos e desafios, porém, nunca duvidei que daria certo e lutei ao lado da minha equipe para enfrentar de frente cada uma dessas dificuldades. E uma coisa, que tenho certeza que sempre foi o diferencial da editora e responsável pelo nosso sucesso, foi o fato de eu sempre consumir mangás e HQs e, por isso, saber um pouco o que achava certo e errado nas editoras, sofrer com algumas coisas, implicar com várias outras (rs), ou seja, ter uma visão como leitor e consumidor. Outra chave foi minha experiência como editor em revistas especializadas de animês e mangás e meu tempo como gerente da Comix Book Shop, que me deu um conhecimento que não se consegue em qualquer lugar e que, com certeza, ajudou muito. Afinal, tive acesso ao que vendia na loja, na distribuidora, tiragens, negociações e eventos, os pedidos dos leitores, ou seja, tive acesso a números verdadeiros, o que realmente era vendido.

Não é segredo que o Brasil se encontra numa dificuldade daquelas e isso acaba refletindo em todas as esferas, com livros não é diferente. Nessas horas, as necessidades que infelizmente são supérfluas, como a parte do entretenimento que acaba englobando a leitura, viram algo secundário. Com isso toda a cadeia que corresponde à parte editorial acaba sofrendo de forma pesada e em efeito dominó. Aqui acrescento que leitura não devia ser tratado apenas como entretenimento, e sim, algo necessário e fundamental na educação, formação e saúde mental de todo mundo. Nesse aspecto, o Brasil poderia ter um mercado gigantesco se houvesse um investimento maior na área e projetos mais abrangentes de leitura desde o ensino fundamental, mas isso é conversa para outro dia.

E não estamos exagerando. Acredito que a maioria está acompanhando que grandes livrarias estão enfrentando grande dificuldades e acumulando dívidas e atrasos no pagamento para os fornecedores. A poderosa editora Abril cancelou quase todas suas publicações e pediu recuperação judicial (e com isso coloca em xeque de uma vez por toda o futuro da distribuição em bancas, que é feito por um de seus braços, a Total Express), a editora Escala anunciou o cancelamento de uma dezena de publicações, e algumas editoras confirmaram que deixarão de fornecer, por enquanto, seus títulos para diversas livrarias e por aí vai.

Voltando, com essa crise e a leitura sendo deixada em segundo plano, as livrarias e lojas especializadas acabam vendendo menos, como consequência atrasam os acertos com as editoras e diminuem os pedidos. Do nosso lado, toda a engrenagem precisa continuar funcionando, com os acertos, licenciamento, tradução, revisão, diagramação, fretes, funcionários, gráficas, estoque e outros gastos fixos sendo pagos em dia. As editoras começam a vender o almoço para pagar a janta…

É importante lembrar que a crise existe, mas o setor de quadrinhos ainda vai bem, o grande problema é que a crise se mistura com uma má gestão e o que ocorre é que as editoras acabam não recebendo o que vendeu.

Para piorar a situação, os dois pilares de uma editora que são a distribuição (e coloco nessa categoria os Correios) e as gráficas estão sofrendo uma crise também nunca vista antes. Nesse aspecto, a NewPOP conseguiu se antecipar e abandonou a distribuição em bancas em 2016, foi a melhor decisão que tomamos e hoje vemos outras seguindo o mesmo caminho. A diferença é que, com essa rapidez na decisão, conseguimos nos preparar melhor com certa antecedência, achar alternativas para chegar aos leitores e não ficamos sofrendo com atrasos de pagamentos das bancas e com um estoque sadio. Afinal, o Brasil possui uma extensão continental e, para atender as bancas, uma tiragem enorme é necessária. Imagine mandar quase 70% da sua tiragem para um canal de vendas consignado (ou seja, que o pagamento depende da venda e só chega 90 dias depois ou mais presumindo que tenha vendido), onde a perda de produtos é enorme, onde quase tudo retorna depois de alguns meses e precisa ser estocado em algum lugar (e acreditem, mesmo vendendo bem, na maioria das vezes a sobra é grande). Sem contar que os prazos para receber os valores dos volumes pagos são enormes (isso quando são feitos, coisa que não vinha acontecendo mais da forma correta) e toda a produção já precisa ser paga muitas vezes antes desse dinheiro chegar, ou seja, uma bola de neve que acabou com muitas editoras.

Um outro detalhe é que, com a saída das bancas, houve a migração de muitos dos nossos leitores para outros pontos de vendas, algo que imaginávamos e que realmente ocorreu. Mas há um outro problema aí, sair das bancas cria uma outra barreira: o alcance à grande massa! Pois por mais que esteja presente em grandes livrarias e lojas especializadas, tais pontos de vendas não estão presentes em todo o país, ou seja, o acesso acaba mais restrito. “Ah, mas é só comprar pela internet” – sim, a solução parece fácil, mas não é bem assim. Por mais que esteja crescendo, as vendas através de lojas online não substituem as vendas em pontos físicos ou de bancas. E imagine então na situação atual onde dois canais grandes estão em crise (pontos de vendas e bancas).

O outro pilar fundamental: a gráfica, que é um problema sem solução a curto prazo. Nos últimos anos, foram mais de 30% de aumento em basicamente toda a variedade de papel que trabalhamos. É engraçado, o Brasil é um dos maiores produtores de celulose do mundo, porém, isso não reflete em nada na maior demanda por aqui (e com isso, valores mais competitivos), pois as empresas querem é mandar o produto para fora do país. A NewPOP sempre fez questão de entregar um produto com um acabamento acima da média com um preço justo. Até hoje, somos os únicos que como padrão (e não chamamos de luxo) entregamos todos os nossos livros com papel off-set de alta alvura, costurado e colado, capa cartonada superior, shrink individual (o que reduz a perda e garante que a edição chegará em bom estado ao leitor), quando não usamos o off-set, nossos outros papéis são o pólem, couchê ou lux cream.

A NewPOP se organizou e se preparou de forma que nunca tivemos grandes problemas com o fornecimento de papel, mantemos um estoque que garante nossa produção. Mas obviamente que sofremos com reajustes e tentamos não repassar aumentos aos leitores, essa opção sempre é em último caso, e de forma justa. Outro aspecto importante é que, com a diminuição de tiragem que pode ocorrer devido à queda de vendas, o custo de produção pode ficar maior. Vocês conseguem entender como uma coisa depende da outra?

Dito isso, depois de tentas explicações e lamentações, muitos devem imaginar que coisa boa não vem por aí, mas podem ficar tranquilos. A NewPOP sempre foi uma referência em ações diferenciadas, em investir no novo, em novos nichos e esse DNA continuará por longos anos. Continuaremos, com orgulho, sendo a sua editora que aposta nos mais variados gêneros desde o yaoi até os seinen. A editora que mantém seu catálogo disponível sempre, para que seus leitores não precisem ficar com medo de começar uma coleção ou vender um rim para completar sua obra favorita. A editora que não cancela suas obras. A editora que investe em experiências e tenta trazer conteúdo diferente, como as camisas oficias de No Game No Life, a lata especial de um energético ilustrada por Happiness, entre outras coisas. Resumindo, uma editora que sempre busca melhorar por saber que possui defeitos e que às vezes também erra.

A NewPOP acredita no mercado e em seus leitores, neste momento acreditamos que temos que manter o ritmo, continuar com nossos lançamentos e na medida do possível, seguir nosso cronograma de publicações. Obviamente que veremos algumas mudanças, só que nada muito significativo. Também iremos apostar em novos formatos, novas tecnologias…

Mas agora, mais do que nunca, precisaremos da ajuda de vocês. Vocês não fazem ideia do poder que possuem. Nesse momento, pedimos que nos informem novos pontos de vendas, que nos deem ideias e principalmente, divulgue a editora e seus títulos. Não deixem de comprar suas obras da NewPOP na sua loja preferida e indicar para um amigo alguma obra que goste. Tenha isso em mente, ajude a aumentar o número de leitores da editora. Mesmo se agora, infelizmente, você não possa adquirir um dos nossos livros, o fato de você divulgar para outras pessoas que possam gostar e virar um leitor fiel ajudará muito. Precisamos aquecer nossas vendas, e não reduzir nossas apostas.

Na próxima semana faremos ainda uma nova pesquisa de mercado e nela lançaremos algumas perguntas relacionadas a projetos que queremos abrir que será necessário a ajuda de vocês, sejam sinceros na resposta, valerá a pena!

E é isso, tentei resumir de forma um pouco mais aberta as coisas para vocês, mas deixando claro que estamos confiantes dos próximos passos da editora e que receberemos a ajuda de todos vocês, pois ainda temos muito o que mostrar, muitas obras para anunciar e toda uma história para escrever!

Junior Fonseca é o diretor da NewPOP Editora. Foi editor das revistas Anime>DO, Comix, Neo Tokyo entre outras e gerente da Comix Book Shop. Atualmente, Fonseca também é coordenador do Anime Friends, maior evento otaku da América Latina.

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